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Assédio e Importunação, você pode ser uma vítima!

A importunação sexual como consequência da objetificação da mulher

Na última semana, dia 16 de março, os participantes do reality show Big Brother Brasil, da Rede Globo, MC Guimê e Cara de Sapato foram expulsos após a Delegacia de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá abrir um inquérito para investigar o crime de importunação sexual dentro da casa.

Imagens das câmeras do reality show mostraram os dois participantes insistindo em ter contato físico com a atriz e modelo mexicana Dania Mendez durante uma festa realizada na quarta-feira.

Em determinado momento da festa, o cantor MC Guimê passou a mão nas costas da mexicana e as deslizou para baixo, encostando em suas nádegas, sem o consentimento dela. A atriz tirou as mãos dele em sinal claro de reprovação.

Pouco tempo depois, o lutador Antônio Carlos Júnior, conhecido como Cara de Sapato, deita na cama com a mexicana e usa a força para prendê-la para tentar beijá-la enquanto cobre os dois com o cobertor. (Fonte: CNN Brasil)

Dessa forma, abordaremos abaixo quão traumático psicologicamente é enfrentar esse tipo de comportamento masculino e quais as consequências para o equilibrio emocional dessas mulheres, além de como buscar ajuda de um psicólogo ou psiquiatra colaboram para reestabelecer sua saúde mental em meio a esses episódios de assédio e importunação.

Diferenças de importunação sexual e assédio sexual

Segundo o art. 215-A do DL n° 2.848 de 1940 que o crime de importunação sexual é classificado como: “Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”, (BRASIL, Lei nº 13.718). Já o assédio sexual segundo a Lei n° 12.015 de 2009, art. 213 se dá ao: “Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”.

A importunação sexual engloba desde toques inapropriados, como as “mãos bobas” e beijos sem consentimento, como os “beijos roubados”. Uma característica comum nestes casos é que, dos relatos, nota-se que o agressor não faz usos de violência física ou grave ameaça. Este tipo de crime é bastante comum em transportes públicos onde o agressor se utiliza da aglomeração e do confinamento dos coletivos para se aproveitar das vítimas e realizar apertões, passadas de mão, “encoxadas” e até mesmo masturbação e ejaculação.

Cultura patriarcal no questão do assédio contra a mulher

Essa conduta está presente na sociedade desde o surgimento da cultura patriarcal, que além de contribuir para o surgimento da violência, também contribuiu para que esta prática fosse naturalizada pela sociedade.

A autora Cunha (2014) descreve que: “A violência contra a mulher é um fenômeno antigo e, também por isso, muito banalizado. Ele se encontra justificado por pressupostos biológicos bem duvidosos, mas infelizmente comuns, que apontam a mulher como ser mais frágil, de menor força física e capacidade racional, que por sua própria natureza domesticável tem tendência a ser dominada, pois necessita de alguém para protegê-la e orientá-la.”

Ou seja, por conta de suas características biológicas, a mulher é vista como um ser que necessita de proteção e orientação, um ser fraco que tem a tendência de ser dominado por um homem.

A sociedade se tornou patriarcal desde quando o homem se tornou sedentário e passou a dominar a produção e administrar a propriedade, a partir da invenção do arado (instrumento agrícola). Neste momento da história, o homem toma consciência também do seu papel na reprodução humana. Este passa a exigir a fidelidade feminina, para que suas heranças biológicas e financeiras sejam transmitidas aos filhos. A partir daí surge a opressão feminina, com a subordinação da mulher ao direito paterno para garantir a transmissão de sua linhagem e propriedade. Dessa forma, sucedeu a “derrota histórica do gênero feminino” e o compartilhamento de tarefas, cabendo à mulher somente as funções da criação dos filhos e os cuidados do lar, ficando cada vez mais afastada das funções sociais, como por exemplo, o desejo de iniciar e ascender em uma carreira profissional. (AMARAL e PORTO, 2014)

Dito isso, podemos entender que o chefe de família tinha a posse de todos aqueles que estavam sob seu poder e quem estava sob este controle e domínio era tido como objeto de sua propriedade. O chefe de família tinha o livre domínio daqueles que estavam sob seu poder, podendo lhes atribuir quaisquer finalidades.

Apesar da evolução constante da sociedade, o patriarcado ainda se encontra presente e enraizado no nosso meio social, isto é confirmado no dia a dia com a desvalorização de tudo relacionado ao feminino e até mesmo com a naturalização da objetificação das mulheres pelos homens, especialmente com vistas às questões sexuais, seja no espaço público ou no privado.

Objetificação da mulher e auto-objetificação

A objetificação é definida pelo dicionário como: Ação de considerar como um objeto. Sendo assim, consiste em analisar um indivíduo a nível de objeto, a ser usado e descartado quando convém, sem considerar seu estado emocional ou psicológico. Quando falamos de objetificação do corpo feminino estamos nos referindo à banalização da imagem da mulher com um objeto de prazer, ou seja, a aparência das mulheres importa mais do que todos os outros aspectos que as definem enquanto indivíduos.

Um resultado desse fato é a auto-objetificação da mulher. Mulheres que vivem em ambientes de objetificação estão expostas a isso e tendem a se auto-objetificar por aprenderem assim e transmitirem o que aprenderam, algumas chegam a objetificar outras mulheres. Este fenômeno causa danos na autoestima, autoconfiança e também na socialização das mulheres.

Em sua pesquisa publicada na Psychological Science Calogero (2013) abordou que mulheres que apresentam altos níveis de auto-objetificação tendem a ser menos ativas socialmente. A mulher se objetifica por conta da cultura patriarcal que compreende que a mulher precisa satisfazer sexualmente o homem, o impacto disso no comportamento de muitas mulheres é de se empenhar em tornar seus corpos sexualmente atraentes. Algumas passam por procedimentos estéticos apenas para atingir expectativas do homem, que por muitas vezes não são frutos de sua própria vontade. Enxergar seu próprio corpo e o corpo de outras mulheres como objetos de satisfação do desejo sexual masculino é parte do processo de auto-objetificação.

Exemplos de objetificação e auto-objetificação:

“Não corte o cabelo porque o homem não gosta de cabelo curto”;

● “Quero seios maiores porque sei que assim vou ser notada pelos homens”;

● “Ele passou a mão em mim, mas é normal porque homens não se contém mesmo”

● “Está vendo ela está com roupa para chamar homem, depois não pode reclamar”.

Atualmente está sendo notado um aumento das denúncias de assédio sexual é algo que deve ser observado como um alerta, pois é possível concluir que as campanhas de conscientização têm surtido impactos positivos. Para isso, para cortar o ciclo do machismo e violência em uma sociedade que relativiza esses comportamentos é necessário dar voz e aumentar a autonomia das mulheres.

A vulgarização e normalização da importunação sexual e do assédio faz com que muitas mulheres não consigam identificar o ato ou não o considerem. Outras podem pensar que esses comportamentos fazem parte do perfil masculino e não vão mudar, porque o “ciclo não tem fim”. Por isso, se faz necessário conscientizar e informar a comunidade sobre algumas práticas que são naturalizadas e vistas como comuns e as consequências que trazem as mulheres.

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